Pode ser a impressão de alguém que cultiva grandes expectativas. Mas quando dobrei a esquina das ruas Érico Veríssimo com João Alfredo, no domingo, dez de abril, às 15h20min (acreditava que eu estava atrasado, devido a minha “montaria” demorada), antecipava encontrar uma multidão de artistas.
Artistas esses que dizem desejar ver salas e teatros lotados. Membros de uma classe teatral de uma cidade percebida em todo o país como uma das capitais mais desenvolvidas e envolvidas culturalmente. Impossível evitar minha decepção ao deparar-me com o número inexpressivo de pessoas no ponto de partida da II Parada de Teatro da Cidade de Porto Alegre. Sim, o Largo Zumbi dos Palmares (mais conhecido como largo da finada Epatur), estava constrangedoramente vazio.
Falo da minha expectativa por ter participado das reuniões e da alegria da primeira parada. Minha conclusão lógica era que, desta vez, na segunda edição, teríamos uma maior participação dos grupos, personalidades, estudantes, diretores, atores, produtores, professores, sobreviventes e empresários do ofício teatral.
Não é minha intenção (muito pelo contrário) desmerecer a iniciativa de um grupo disposto fazer acontecer algo legal. Lá estavam muitos alunos, não mais que cinco mestres, menos da metade dos grupos que dizem atuar nesta cidade, a gente do teatro de bonecos (sempre presente, apoiando) e alguns familiares.
Apesar da decepção, uma valiosa lição aprendida nesses meus 16 anos de teatro foi providencial: a plateia sempre merece nosso maior esforço e dedicação – seja ela formada por um, dois, 50 ou 200 expectadores. Da mesma forma, a Parada e os poucos presentes contavam com a entrega de cada um. E seguimos, conduzidos pela força maravilhosa e contagiante da Banda da Saldanha.
Ao fazer esse relato sobre o evento, pergunto: Onde estavam as pessoas que se beneficiam dos fundos como as leis de incentivo à cultura? Os agraciados do Fumproarte? Dos projetos da nacionais da Funarte? Onde estavam as personalidades que alegam fazer teatro “desde as cavernas” na nossa cidade?
Por que razão se ausentaram aqueles que aparecem quando concorrem a premiações? Talvez ocupados em um desses eventos “artísticos” promovidos por políticos e regados a discursos e coquetéis... (Muitos desses, não por coincidência, os mesmos que ocupam, anos a fio, cargos políticos que decidem o destino financeiro e artístico da classe!)
Ali estavam as pessoas que, de fato, se preocupam com o contexto. Com o cenário do fazer teatral em Porto Alegre. Mas esperava mais, projetava mais. Uma vez que festejávamos a II Parada de Teatro, com o apoio voluntário da iniciativa privada (SESC), a parceria de nossa prefeitura (que fez o possível e até copinhos com água do DMAE distribuiu), surpreendeu-me a ausência de gente que ocupa a Secretaria de Cultura no Governo Estadual.
Desculpo-me antecipadamente se por ventura estiver sendo injusto e equivocado. Mas o evento não teve o impacto necessário para uma classe que quer reivindicar crescimento em nossa cena teatral.
Será que vamos nos encontrar na terceira edição? Espero que abram-se as tais portas dos castelos e cavernas. E que, ao menos por uma tarde, durante algumas horas, um domingo por ano, a máscara de burocrata seja trocada pelo semblante do artista que ainda acredita que fazer teatro é relevante e vale à pena.
Heinz Limaverde
Ator