terça-feira, 20 de maio de 2008

É sagrado dançar



“Whenever a dancer stands ready, that spot is holy ground”
Martha Graham


Dançar sempre fez parte da minha vida. Pequena e tímida que eu era, minha mãe conta que chegava nas festas de aniversário da minha turma e enxergava uma rodinha com várias crianças dançando e no meio de todas elas, eu.
Aos oito anos comecei a fazer ballet e em seguida resolvi “abrir” uma turma de crianças na minha casa. Minha irmã Adriana, três anos mais nova que eu, convidava as colegas do colégio e eu lhes dava aula de ballet numa sala de estar grande e vazia que tínhamos na casa que o meu pai construiu para a nossa família. Essa sala permaneceu vazia, pois a casa e a família não duraram muito, meus pais se separaram quando eu tinha 10 anos.
Nas festas de Natal, montava coreografias. Usava as fantasias dos espetáculos de fim de ano da escola ou criava outras. Ainda hoje, minha família lembra de algumas apresentações e as fotos existem para que não me deixem mentir.
O ápice de toda essa história foi o filme musical A Noviça Rebelde. A primeira vez que o assisti, no antigo cinema Presidente na avenida Benjamin Constant, estava com minha tia Renée, que me cochichava as falas ao pé do meu ouvido – eu ainda não conseguia ler as legendas. Apaixonei-me pelo filme e pelas músicas cantadas pela divina Julie Andrews. E decidi montar o musical em uma das minhas férias em Atlântida. O elenco era composto por amigos e pela minha irmã. Eu dirigia, coreografava e atuava. Na verdade, tinha papel duplo: fazia a noviça e a irmã mais velha na famosa cena em que dança e canta no jardim de inverno com o seu namorado austríaco. Nós apresentávamos nas casas das nossas famílias e cobrávamos ingresso!!!! De onde eu tirava tamanha coragem? (sim, nós cantávamos em inglês!!!!).
Com o tempo, o rigor do ballet clássico acabou por me tornar uma jovem adolescente amarga por não ter o corpo “perfeito” para dançar. Vivia em crise com a balança, com a minha altura e o meu andeour. Não aceitava o corpo que tinha, passava horas com pilhas de enciclopédias em cima das pernas e dos joelhos para tê-las no formato em “x”. Meu sonho era ser anoréxica como Gelsey Kirkland, a bailarina norte-americana que definhou com a doença. Eu era jovem. E eu queria dançar. Mas dançar tinha se tornado uma cobrança e um sofrimento.
Parei de dançar por oito anos. Oito longos anos. Mas a verdade é que nunca me afastei da dança. Ela vivia dentro de mim e nos meus sonhos. Lutei para afastá-la, como se luta às vezes para esquecer um grande amor. Procurei outras atividades, me tornei professora de inglês, me formei socióloga, fiz política no DCE da Universidade. Tudo muito bacana. Mas não bastava. A dança gritava dentro de mim e eu sofria por não encontrar meios de deixá-la sair.
Martha Graham, na sua autobiografia Memórias do Sangue, diz que “...a dança é a eterna pulsação da vida, o desejo absoluto. É o desconhecido.” Ela chama o bailarino de “atleta de Deus”. Martha dedicou a sua vida à dança, morrendo aos 97 anos em 1991. Deixou um legado a todos bailarinos e artistas ao viver a dança como algo “sagrado”:

“Acho que o motivo pelo qual a dança tem mantido uma magia tão perene para o mundo é que ela tem sido o símbolo da realização da vida. Com o tempo, as descobertas científicas mais admiráveis sofrerão mudanças e talvez se tornem obsoletas. Mas a arte é eterna, pois revela a paisagem interior, que é a alma do homem.” (Memórias do Sangue, p.11)

A dança está presente na vida do homem desde os tempos mais remotos e sua origem foi como ato sagrado. Os primeiros registros de movimentos do corpo datam de 14.000 anos atrás. Mas é só no século XX que a pesquisa na dança começa a ser aprofundada. Supõe-se, através de registros históricos, que o homem paleolítico celebrava a caça através de uma dança ritual. O sentido do sagrado aqui atribuído é o da consagração, a dança leva e eleva os homens a um plano superior a si mesmos.
Com o passar dos séculos e a busca por um pensamento racional, a dança começa a ter um caráter mais cerimonial e perde um pouco da sua origem ritualística.
Para os gregos clássicos, a dança era um dom dos imortais e uma forma de comunicação entre os homens e os deuses. O filósofo Sócrates dizia que a dança formava o cidadão por completo.
Entre os romanos, pode-se destacar as danças guerreiras celebradas durante a primavera em honra a Marte, o deus da guerra.
Foi inspirada por essa origem da dança tão fortemente ligada ao sagrado que redescobri o prazer de dançar.
Ao fazer o caminho de volta e tentar chegar na pureza dos nossos ancestrais, passei a me preocupar menos com normas e regras e mais com a alegria de simplesmente dançar e criar.
Descartei preconceitos que já não me serviam mais, esqueci a grande bobagem que se diz por aí que a dança é para os “jovens” e aos 30 anos renasci e renasço a cada dia que danço, pois esta é a minha necessidade primeira, a minha grande paixão.
Essa é uma pequena parte da minha história com a dança e o porquê dela ser sagrada para mim.

Qual a sua história?
Fernanda Stein


Fontes bibliográficas:
Memórias do Sangue – uma autobiografia – Martha Graham
A Dança e sua característica sagrada – Marta Claus Magalhães

quarta-feira, 14 de maio de 2008

II Prêmio Açorianos de Artes Plásticas

Em cerimônia no Teatro Renascença, realizada no dia 8 de maio, às 20h, Porões-a-Paralelos, de Eny Schuch, Niúra Borges, Fernanda Stein e Paulo Guimarães, levou o II Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, destaque em Mídias Tecnológicas. Com trilha original de Arthur Barbosa, a vídeo performance foi uma imersão do grupo nos porões da Prefeitura de Porto Alegre, pesquisada durante seis meses pelo Núcleo em Videodança, do MEME - Centro Experimental do Movimento.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Para marcar o Dia Internacional da Dança...


“Quando olho para mim não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir que me extravio às vezes ao sair das próprias sensações que eu recebo." Fernando Pessoa

“Quando paro para pensar sobre a dança sinto uma necessidade enorme de expressar toda a felicidade, angustias, planos e esperanças, aprendizados, decepções, momentos plenos e únicos vividos e proporcionados durante a encantadora experiência que é o ato de dançar. São momentos que ficam para sempre, talvez oportunidades únicas de manifestar-se por inteiro. A dança traz fragmentos do nosso ser que muitas vezes não conseguimos acessar, como uma porta mágica que só abre aos puros de coração, ou, nos momentos em que conseguimos estar! Certa vez ao indagar a um colega como ele conseguia se transfigurar daquela forma no palco, ele me respondeu: -Paulo, acho que é o AMOR! E quem não tem capacidade de Amar? Então dancemos!”

"Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez!" Friedrich Nietzsche


Vá, agora mesmo, coloque um som, uma música, cante; e deixe seu corpo livre de todo preconceito e julgamentos possíveis. Simplesmente dance, do jeito que quiser, mas dance! Não perca esta oportunidade. Talvez este seja o momento de você encontrar-se um pouco para ter uma conversa íntima consigo mesmo. Seus músculos querem conversar, desesperadamente, com seus sentidos, Seus ossos querem confidenciar com suas memórias, sua pele quer se reconciliar com sua imaginação. Você deve estar pensando agora que sou um idiota ou louco, mas foi a forma que encontrei de mostrar para mim mesmo e aos outros quem sou realmente. Danço minha vida e minha vida é dançar!

"O corpo diz o que as palavras não podem dizer.” Martha Graham



Hoje é o dia Internacional da Dança e nós do MEME - Centro Experimental do Movimento Ltda. e do MEME – Grupo de Pesquisa do Movimento queremos compartilhar com todos vocês a alegria que sentimos em poder proporcionar a todos que estão conosco estes momentos inesquecíveis e desejar, também a todos, muita DANÇA EM SUAS VIDAS!!!E dizer que estamos engajados em lutas em prol desta DANÇA, através de uma postura ética frente à todos que tentam distorcer os princípios básicos da popularização e democratização da cultura enquanto arte, enquanto dança! Com atitude e posicionamento frente às causas da nossa profissão e nossa classe. Não cedemos à pressões muito menos à políticas do "medo" que rege a cultura gaúcha.

"O bailarino tem que sair do studio e ir ver como as pessoas estão dançando na rua." Ivaldo Bertazzo

Paulo Guimarães – Diretor e Coordenador do MEME








Registro do Laboratório de movimento realizado no Parque da Redenção em Porto Alegre-RS, em 19 de abril de 2008.