sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A cereja do bolo?


Sempre me interessei por política e por dança. Mas nunca parei para pensar nos dois juntos. Até agora.

Em 1982, fui redatora-chefe da “Gazetinha”, jornalzinho da minha turma de 4 série do Ensino Fundamental. Escrevi um texto sobre as eleições para governador do estado, as primeiras desde muito tempo, pois ainda estávamos em período de ditadura militar.

Em 1985, acompanhei atentamente o drama de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito depois de muitos anos. Tá certo que não foram eleições diretas, mas mesmo assim, o povo brasileiro vibrou muito com a sua vitória e nele depositava grandes esperanças.

Uma noite, no hotel Plaza São Rafael, me deparei com uma comitiva de políticos do PDT. Tancredo estava já internado e ninguém sabia de fato quais eram as chances dele sobreviver e ocupar a presidência. Eu tinha 12 anos. Caminhei até Leonel Brizola e perguntei a ele como estava o presidente. Lembro que ele me recebeu muito educadamente, conversamos sobre a situação do país ligeiramente e então ele olhou para os outros que estavam ao seu redor e disse: “aqui está a futura prefeita de Porto Alegre!!!”

Outubro 2008 – Porto Alegre teve 4 candidatas à prefeitura e eu não era nenhuma delas. Minha experiência com a política esvaneceu com o fim do meu período na Universidade. Muita campanha eleitoral fiz, muitas bandeiras carreguei, mas muito além disso não fui.

Quinta-feira passada, assisti ao debate dos candidatos a prefeito de Porto Alegre na RBS TV. E uma coisa começou a “gritar” nos meus ouvidos: ei! Vocês aí, senhores e senhoras candidatos!!! E quais são os seus projetos para a arte?? Não houve resposta. Dentre todos os tópicos de perguntas, nenhum deles dava abertura para que se falasse pelo menos um pouquinho sobre o papel da arte e da cultura em um governo. Ok, ok.... Eu sei que saúde, educação, transporte coletivo, desenvolvimento econômico etc, são assuntos de primeira importância. Muitos até diriam que arte é a cereja no topo do bolo, ou seja, é um enfeite, um toque de elegância para uma sociedade que já tenha tratado de seus outros problemas e possa se dar ao luxo de desfrutar de um espetáculo de música, teatro ou dança.

Será? Será que somos mesmo uma mera cereja? Nada contra a cereja, mas acredito que podemos e somos também capazes de ocupar outras partes desse bolo. Projetos artísticos podem muito bem transformar uma comunidade, tirar crianças das ruas, educar o cidadão, ampliar os horizontes, andar lado a lado com outros projetos de saúde e educação e até de desenvolvimento. Uma cidade precisa cuidar bem de seus artistas e dar oportunidades reais para que se criem outros, para que haja renovação e que esta renovação não aconteça somente nas elites que tem poder aquisitivo para pagar por aulas ou ir ao Teatro São pedro, nem que fique restrita à panelinhas.

Eu gostaria de ouvir, agora nesse segundo turno, as propostas de Fogaça e Maria do Rosário para a arte a a cultura. Gostaria de saber que a minha cidade tem projetos sociais que levam tudo isso em consideração.

Queremos fazer parte da discussão. Queremos ser a cereja e também o bolo.

Fernanda Stein

www.fernandastein.blogspot.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom. Gostei do texto. mas,
Atenção artistas aamigos e companheiros de luta, não são os políticos que nãp nos escutam, somos nós os artistas que não nos fazxemos ouvir. A dança pode muita coisa! Cabe a nós fazer com que isto ocorra e com q outros percebam esta possibilidade e força.
BJs,
Silvia Wolff

Unknown disse...

Legal o teu texto Nanda ! Concordo no fato de que a Arte deveria estar junto com a Educação, pois vejo as duas andando de mãos dadas, porém, não parece ser o que os 'nossos políticos' pensam...

Paulo disse...

Fernanda!!!

Bonitas e reflexivas suas palavras, me pergunto se nós, classe artística, não deveríamos levar estas palavras aos interessados, ou melhor, aos candidatos. Não esqueçamos que um deles já teve a oportunidade de responder, em serviço, durante os últimos quatro anos. Será que estamos satisfeitos? Senão, o que vamos fazer?