segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Os bonecos de Charleville

















15◦ Festival Mundial de Marionetes – Charleville – Mézière – França

No dia 18 de setembro de 2009 tive a oportunidade de estar presente no primeiro dia do Festival Mundial de Marionetes que acontece de três em três anos na pequena cidade francesa de Charleville – Mézière na bela região de Champagne Ardenne no noroeste da França e às margens do Rio Meuse. Charleville é conhecida por ser a cidade onde nasceu e cresceu o famoso poeta Artur Rimbaud (1854 – 1891) e hoje abriga um museu que leva o seu nome e conta a história de sua breve e intensa vida.

Além de Rimbaud, Charleville é famosa por ser um centro internacional de estudos relacionados à arte de trabalhar com bonecos e objetos. É lá que fica o “Institut International de la Marionnette e a Ecole Nationale Supérieure des Arts de la Marionnette” (http://www.marionnette.com/) tendo sido o Instituto estabelecido em 1981 e a Escola em 1987. Esta é a única escola de marionetes em toda a França e tem um período de estudos de três anos, recebendo estudantes de vários países do mundo.

O Instituto é também um pólo de pesquisa e possui uma completa biblioteca e central de vídeos.

Foi através de um projeto de pesquisa e de uma consequente bolsa de estudos que em julho de 2005 fiquei conhecendo de perto a cidade e este magnífico pólo de artistas. Minha pesquisa buscava aprofundar a relação entre o bailarino / performer e a manipulação de objetos de cena. Uma vez em Charleville tive a oportunidade de não apenas usufruir da biblioteca e da central de vídeos, como também participar da Oficina- Montagem “O Objeto Sonoro e seus Ritmos” com os professores Dominique Montain e Henry Ogier que culminou numa apresentação no aconchegante teatro no subsolo da Escola.

Além de todo aprendizado artístico, este tipo de experiência proporciona um excelente intercâmbio entre artistas de variados cantos do mundo uma vez que abrigamos a mesma residência e vivemos intensamente não só a Oficina mas outros momentos do dia como o café da manhã, por exemplo. Conheci e trabalhei lado a lado com artistas da Itália, África do Sul, Bélgica, França, entre outros.

Por esse motivo, quando soube que estaria na França no primeiro dia do Festival, mudei meus planos de viagem e tomei o trem de Paris até Charleville (2 horas).

Já no trem se percebia a atmosfera de Festival! Alguns artistas com seu bonecos iam na mesma direção. Chegando lá, minha mochila e eu fomos até a conhecida Place Ducalle, coração da cidade e onde meu amigo Mickael estava trabalhando em uma barraquinha vendendo bonecos e outros apetrechos. Bastou a breve caminhada pela rua principal para sentir a energia que começava a tomar conta de toda cidade. Enfeitada com bandeiras de países do mundo todo, a sensação que se tinha é que se estava entrando em um mundo mágico e colorido, habitado por seres humanos e por diversos bonecos de todas as formas, cores e tamanhos. As vitrines das lojas ficam decoradas com os mais criativos “puppets” deixando clara a adesão da cidade e dos seus cidadãos ao Festival, que traz milhares de turistas e com certeza movimenta muito o comércio de Charleville. Grupos de crianças em idade escolar passeavam de mãos dadas maravilhadas com as performances que acontecem espontaneamente em todas as esquinas e ruas paralelas. Além da programação oficial do Festival, a cidade conta com os espetáculos “off “ que ajudam a deixar o clima ainda mais festivo e rico. Minha amiga Maíra Coelho, renomada artista de Porto Alegre, estava lá com o seu Titeretoscópio, apresentando o espetáculo O Equilibrista que pode ser visto apenas por uma pessoa cada vez. Foi muito bacana acompanhar o processo de montagem e de apresentação dela e de seu parceiro catalão Adrià nas ruas de Charleville, e observar a reação de crianças e adultos ao assistir o show.

A Place Ducalle era um espetáculo a parte, tomada por barracas coloridas, bonecos espalhados pelos bares e restaurantes, performances que aconteciam a todo instante, a energia festiva de uma cidade respirando arte e abrindo espaço para toda uma população de bonecos e figuras fantásticas, contagiando velhos e crianças, adultos de todas as idades, criando um espaço único de comunhão entre arquitetura, história, pessoas e marionetes, como se fosse uma espécie de sonho...

Ao entardecer, as luzes do pôr-do-sol me encheram de uma felicidade de difícil descrição. Sentamos na barraquinha do Mickael, artistas do Brasil, da Espanha, Cuba, Canadá e França. Formamos por algumas horas a nossa pequena comunidade internacional artística, bebendo uma cerveja e falando de arte. De vez em quando, um cortejo de performers passava por nós e lá ia eu correndo atrás, querendo segurar essa vivência no meu coração para sempre. Compartilhar é reviver. Espero ter conseguido, neste breve relato pessoal, trazer um pouco da atmosfera deste incrível festival. Quem tiver interesse em saber mais sobre a Escola e o Instituto ou sobre o período que vivi em Charleville, entre em contato nandastein@hotmail.com. Estarei sempre disponível para ajudar e orientar outros artistas que tenham vontade de fazer este intercâmbio!

Au revoir et a bientôt!

Fernanda Stein

Bailarina e pesquisadora do Grupo Meme de Pesquisa do Movimento


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