Um território construído e conquistado por mãos conscientes do que significa compartilhar e que respeite as individualidades, onde se possa realizar e idealizar projetos que satisfaçam nossas necessidades de homem e cidadão, talvez seja o espaço ideal para habitarmos.
Este espaço de “conforto” o qual denominamos território da cultura tem sido uma constante busca na trajetória do grupo MEME. Nosso objetivo nestes últimos tempos tem convergido pontualmente na busca de estratégias que facilitem o acesso a este território.
Entre tantas perdas e ganhos, algumas indagações surgem durante o percurso, reflexões de um grupo de artistas que há sete anos vem se dedicando incansavelmente na reconstrução da sociedade através do exercício da arte, mas para que isso venha a acontecer, tornou-se necessário ocupar um espaço, estabelecer relações, promover o desenvolvimento das cadeias produtivas da cultura (criação, produção, formação, difusão e circulação de bens culturais), participar na estruturação de políticas culturais decentes à classe e entender que o “indivíduo” deve ser preservado acima de tudo.
São tarefas árduas que exigem demandas cada vez maiores e mais intensas das partes envolvidas: artistas, gestores, empresários, produtores, políticas (públicas e privadas), acadêmicos, autônomos, etc.
Como artistas, quando se fala em território da cultura pensamos num lugar onde se possa trabalhar em paz para desenvolver o potencial criativo que emana do “ser” humano; extravasar as necessidades de expressão; falar um pouco do que vemos e vivemos; não ter a preocupação com o resultado mesmo tendo consciência de para quem e aonde vamos “apresentar”. Como gestores e promotores o território adquire um status de investimento e conseqüentemente necessita de uma infra estrutura para estabelecê-lo e mantê-lo.
A questão, que serve como pergunta para todos os segmentos envolvidos é: - Trata-se um investimento lucrativo e por este motivo vale à pena investir em um território da cultura?
Para nós, do grupo MEME, a resposta é sim.
Todos nós fomos de alguma maneira transformados pelo processo artístico ao rever conceitos, expor cicatrizes, experimentar emoções, desenvolver a criatividade livremente e se permitir mergulhar no espaço da indeterminação sem medo do erro. Foram momentos inesquecíveis que “ficam” e trazem outros significados para as nossas vidas. Investir “nisto” significa dar um sentido além do “comum” para tudo o que fazemos.
Quando temos a oportunidade de contribuir para que nossos semelhantes sejam contagiados por este processo, e conseqüentemente transformados de forma simples e espontânea, temos algo que nos diz: - Este é o caminho!
Ao constituirmos um território da cultura além de experimentarmos o sabor da transformação pessoal, podemos desenvolver projetos mais consistentes e engajados que nos permitem atingir vários segmentos da sociedade, como por exemplo, a RUA DA CRIANÇA, que em 2010 beneficiou mais de mil crianças de todas as classes e raças num mesmo território onde juntas puderam brincar e se divertir na rua com total segurança, e acompanhadas de profissionais especializados em arte e educação. E que este ano terá sua segunda edição na Rua Lopo Gonçalves, 176, residência do MEME Santo de Casa Estação Cultural, nosso território da cultura que é um espaço totalmente autônomo mantido por artistas profissionais da cidade de Porto alegre, que através de uma rede de parcerias desenvolve, a cada ano, mais projetos referentes às cadeias produtivas da cultura, conscientes do papel social da arte. Um exemplo ilustrativo dessa realidade é o III Encontro MEME deArte Experimental que ocorreu em agosto de 2010 com o tema “Arte e Sustentabilidade” que reuniu pessoas de todos os segmentos da cultura e de vários estados brasileiros, Argentina e França com a finalidade de discutir e refletir sobre estratégias para o desenvolvimento e a popularização da arte em nossos territórios. Todos esses “passos” têm o intuito de constituir e consolidar um território da cultura sensível às necessidades contemporâneas e que desenvolva ações em prol de uma sociedade mais humana através do exercício da arte. O caminho é longo e a tarefa é árdua, mas os sinais apontam em direção ao desconhecido, o que o torna excitante e motivador, porque para “nós” artistas a possibilidade de exercitar a criatividade é irresistível.
Paulo Guimarães, coreógrafo e coordenador do MEME Santo de Casa Estação Cultural.