Fernanda Stein, bailarina do Grupo, conversou esta semana com Stela Menezes, bailarina com especialização em vídeo-dança pela Angel Vianna (RJ), atualmente, em atuação no Domus Studio de Dança, em Novo Hamburgo. Stela, que ministrou semana passada um workshop sobre Vídeodança no Meme Centro Experimental do Movimento, fala um pouco sobre sua trajetória e do trabalho que desenvolve:
Fale um pouco da tua trajetória artística na dança em Porto Alegre.
Eu comecei a vir a Porto alegre pra fazer aulas em 1989; inicialmente Ballet, e pouco tempo depois, técnica de Martha Graham com a Cecy Franck. Fiz parte da turma que iniciou o Centro de Formatividade em Dança, que foi um projeto de uma escola de dança Estadual, mas que infelizmente não sobreviveu ao segundo ano de funcionamento. Dancei (ainda danço) com a Victoria Milanez, do Ballet Concerto, com o Muovere, com o Paulo Guimarães no Meme e atualmente trabalho com a Maria Waleska e o Décio Antunes. Nunca perdi, porém, o contato com a cidade de onde eu vim (Novo Hamburgo), onde tive um grupo experimental com duas outras bailarinas (Tríptico Grupo Independente de Dança), participei da Sêmea Cia de Dança e depois do Domus, estúdio onde também iniciei minha carreira pedagógica em dança.
Como surgiu a oportunidade de trabalhar com vídeo-dança?
A vídeodança surgiu quando eu me formei (Música pela UFRGS) e comecei a procurar cursos de pós-graduação na área de dança. Eu tinha tido um contato rápido com essa forma artística em um curso no Condança havia alguns anos, e decidi cursar a especialização em Videodança na Faculdade Angel Vianna (RJ).
O que dizer da tua temporada carioca? Como foi a experiência?
No tempo que passei no Rio, além dos estudos específicos em Videodança, tive a oportunidade de fazer aulas com coreógrafos e pesquisadores em dança contemporânea como Alexandre Franco, Paulo Caldas, Andréa Bergallo, Carlos Laerte, Andréa Maciel, Tony Rodrigues, além de alguns mestres de ballet clássico. Participei de um espetáculo (oficina-montagem) com Sueli Guerra, dando seqüência às experiências com dança-teatro que eu já tinha aqui no Sul. Aproveitei também para assistir a muitos espetáculos, pois sempre há uma boa variedade de opções. Percebi que o circuito de dança do Rio de Janeiro é bastante qualificado, com artistas que investem muito em sua formação, tanto física quanto intelectual, e que existem vários Festivais importantes de nível profissional como o Panorama da Dança e o Dança em Foco (que é específico de Videodança). O mercado é bem maior do que aqui, mas também há muitos bailarinos, e é bastante difícil para um 'forasteiro' integrar-se no circuito profissional.
Como a bailarina Stela se relaciona com a sua imagem no vídeo?
Ver-se no vídeo é algo muito interessante, pois possibilita reconhecer a nossa forma de nos movermos, de um ponto de vista diferente daquele que temos ao olhar em um espelho. Sempre penso na Isadora Duncan, sobre quem tanto se falou, elogiou, criticou, admirou, mas de quem ficaram somente os registros em textos, fotos e desenhos, e a informação no corpo de suas discípulas. Não conhecemos Isadora em movimento, e isso parece historicamente lamentável. A minha experiência particular com a minha imagem filmada passou por algumas transformações. Sempre, o princípio de tudo é a aceitação do corpo. Se as imagens não atenderem aos meus critérios pessoais de aceitação do tamanho e forma do corpo, figurino, iluminação e enquadramento, elas são censuradas e eliminadas na edição. Porém, não ferindo esses critérios, eu geralmente gosto das imagens que eu produzo em termos de precisão, clareza e interesse dos movimentos.
Planos artísticos para o futuro próximo? Podes dividí-los conosco?
Meus projetos a partir de agora são dançar muito, afinal, neste tempo no Rio fui muito pouco bailarina; aprofundar meus conhecimentos técnicos relacionados a equipamento e produção videográficas; dar prosseguimento às minhas pesquisas em dança contemporânea com meus alunos, visando tanto a composição coreográfica quanto a produção de vídeos. No momento, estou interessada em ampliar minha atuação em Porto Alegre, tanto como intérprete quanto como professora, pesquisadora e criadora.
O que é o Meme nas tuas palavras?
O Meme na minha visão é espaço, como se fosse um espaço gerador de espaços. Percebo na diversidade e na disponibilidade que fazem parte da filosofia desse lugar a geração, para os criadores que ali transitam, de uma espécie de tabula rasa, como se propiciasse uma folha em branco essencial para se começar a escrita de alguma coisa. Obviamente, nenhuma pesquisa em arte contemporânea principia zerada, mas o espaço-Meme parece favorecer o questionamento de pressupostos estabelecidos e o encontro de muitos outros possíveis.
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