terça-feira, 2 de março de 2010

A Arte de compartilhar o conhecimento de Liane Venturella




por Fernanda Stein - bailarina e pesquisadora do Grupo Meme.


Durante o mês de janeiro de 2010, enquanto a sede do Meme permaneceu em reformas, Liane Venturela foi convidada a dar uma Oficina de Máscaras pela segunda vez em nosso espaço, agora na Casa Verde (José do Patrocínio, 278). Aprofundando as técnicas aprendidas no verão de 2009, o trabalho de Liane foi, sem dúvida, um presente para o grupo. Com delicadeza e grande profissionalismo, nos guiou pelo universo das máscaras e, através de diversas técnicas, nos trouxe algo mais verdadeiro no ato da representação. Abaixo, segue uma breve entrevista com a atriz, realizada durante a oficina.





Meme: Como surgiu o interesse e a oportunidade de estudar/ pesquisar as máscaras?

Liane: Estava estudando na Desmond Jones, que é mais direcionada ao physical theatre, e naturalmente comecei a acompanhar todos os Festivais de Mímica de Londres (onde conheci o pessoal da Trestle Theatre Company).
Sempre acreditei que o teatro deveria ultrapassar a barreira da língua e tive ainda mais certeza disso quando estudei com Lorna Marshall. Começou ai minha profunda curiosidade em relação ao trabalho com máscaras. Participei de diversos workshops realizados dentro das programações dos festivais e quando apareceu a oportunidade uns anos mais tarde fiz o curso com o pessoal da Trestle.



M: Quais são, na tua opinião, os maiores desafios para o ator / bailarino no trabalho com as máscaras?

L: Acredito que as mesmas de quem trabalha só com teatro. A verdade precisa ser encontrada, percebida e depois reproduzida (com o mesmo frescor do primeiro passo). Esse é o grande desafio para quem representa, a veracidade. Atores e bailarinos, todos buscamos a mesma coisa.



M: Como foi que tu passaste a enxergar o corpo e o expressar-se através dele a partir do momento em que utilizou a máscara? Tua expressão corporal se modificou/aprimorou? Como foi isso?

L: Foi para buscar um trabalho mais focado na representação do corpo que encontrei as máscaras. E estou longe de ter chegado a algum lugar. A busca sempre te leva para mais longe do que a certeza. A cada novo trabalho tento me observar mais e estar atenta as ciladas em que nós mesmos nos colocamos.





M: Já vi trabalhos onde bonecos contracenavam com atores "normais".
É possível a contracenação de máscaras com atores de cara limpa? Ou são linguagens que não se misturam?


L: A mascara tem uma força brutal. Mas não diria que as duas coisas não se misturam, já vimos isso na Comédia Dell` Arte. Tudo é possível, depende do contexto, da linguagem e da pesquisa do trabalho.



M: Vimos no curso que as máscaras são encantadoras e que podem surgir histórias maravilhosas.
Porque são poucos os espetáculos de máscaras?


L: Acredito que poucas pessoas estudaram máscaras por aqui. Percebo que as máscaras estão mais presentes nos trabalhos como um meio e não como um fim. Os “tempos” delas também são outros e andam na contramão do que vivemos hoje ( e é isso o que mais me fascina nesse trabalho).



M: Como tu buscas conhecer o personagem a ser interpretado? Na tua carreira, existe algum que se destaque em relação aos demais? Por quê?

L: Nunca desenvolvi nenhum método para chegar a uma personagem. Essa composição depende muito da proposta do trabalho. Muitas vieram de fora para dentro, quando montamos farsa, outras ao inverso. É complicado ter uma sistemática até por que o teatro não se propõe a isso. Cada novo trabalho é diferente e só começo com o mesmo objetivo: a verdade. Por mais caricata que inicie sua personagem ela deve se tornar crível. Não destaco nenhum trabalho pois absolutamente todos tem um sentido muito especial e seria injusto.





LianeVenturella iniciou sua trajetória como atriz em 1984, formou-se na Desmond Jones School of Mime and Physical Theatre (Londres) durante os quatro anos em que morou lá também aprimorou seus estudos nos seguintes cursos: MIME SCHOOL, curso de mímica com Ronald Wilson (1991), MASK AND THE ACTOR, curso de máscaras com Lorna Marshall (1992). Em 1996, em Londres novamente, participa dos workshops de: Joff Shaffer _ Trestle Theatre _ TRABALHO DE MÁSCARAS Estuda também na École Philippe Gaulier, cursando Melodrama, Clown e Bufão. Entre os espetáculos que participou destacam-se: DECAMERON, de Giovanni Boccacio, direção de Luis Henrique Palese, UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA, de Ziraldo com direção de Adriane Mottola, O BARÃO NAS ARVORES, de Ítalo Calvino com direção de Roberto Oliveira, O BEIJO NO ASFALTO, texto de Nélson Rodrigues com direção de Patrícia Fagundes, DOROTÉIA, texto de Nelson Rodrigues e direção de Kike Barbosa, AUTO DA COMPADECIDA com o grupo Depósito de Teatro PRÊMIO AÇORIANOS DE MELHOR ATRIZ COADJUVANTE 2001, TODA A NUDEZ SERÁ CASTIGADA de Nelson Rodrigues com direção de Ramiro Silveira, “AQUELAS DUAS” orientação e dramaturgia de Nélson Diniz, CALAMIDADE, com direção de Cláudia de Bem. PRÊMIO AÇORIANOS DE MELHOR ATRIZ 2006, DENTROFORA de Paul Auster direção de Carlos Ramiro.









Um comentário:

Paulo Guimarães disse...

Foi mais do que um curso, foi uma experiência de vida!