Trazendo diferentes expressões artísticas para um diálogo aberto, o Grupo de Pesquisa do Movimento desenvolve espetáculos, laboratórios, espaços-improviso, performances, debates, palestras, sempre valorizando processos de criação artística e buscando uma linguagem própria e poética para a dança.
Criado em janeiro de 2004, por Paulo Guimarães, bailarino da Quasar Cia. de Dança (1998 a 2003), atualmente o Grupo reside no MEME - Centro Experimental do Movimento, em Porto Alegre – RS.
O documentário acima registra, em breves palavras (e silêncios), as percepções de um grupo de artistas que, desde 2004, vem trabalhando em conjunto para chegar a maturidade profissional e artística. Aprendendo com os erros e acertos, eles buscam caminhos para expressar idéias, mergulhando no abismo da indeterminação. O gesto, o som, o movimento de uma câmera ou de um pincel preenchem os espaços deixados pela ausência de definições.
Teatro e dança são os destaques no ano Antônio Hohlfeldt – Jornal do Comércio 24/12/09
A temporada teatral do ano que se encerra teve uma movimentação muito boa, levando-se em conta o ano de crise econômico-financeira que o País enfrentou. Mantivemos as atrações tradicionais, como o Porto Verão Alegre e o Porto Alegre em Cena, no que toca à Capital gaúcha. A cidade de Canela garantiu seu calendário com os dois festivais tradicionais - o de teatro e o de teatro de bonecos -, e o conjunto de atrações que visitou a cidade de Porto Alegre ou que aqui foi produzido chega a surpreender. Se o Porto Verão Alegre foi bastante decepcionante pelo excesso de reprises que apresentou, o Porto Alegre em Cena atingiu plenamente seus objetivos, trazendo alguns dos trabalhos mais significativos produzidos na ribalta mundial.
Mas a cidade assistiu também a grupos do interior, como ocorreu logo no início da temporada, com o grupo coreográfico de Suzana Schoellkopf e Márcio Barreto. Também de fora, mas do centro do País, recebemos, ainda em março, o belo trabalho A alma boa de Setsuan. O mês ficaria marcado, contudo, pela estreia de Teresinhas, um dos trabalhos de dança mais bonitos de toda a temporada e que valeu ainda pela gravação de um DVD inesquecível. O trabalho do Grupo Meme, dirigido por Paulo Guimarães, chegou como quem não queria nada e encantou a todos.
por Fernanda Stein - bailarina e pesquisadora do Grupo Meme (jornalista nas horas vagas!)
No dia 13 de novembro de 2009, o Meme esteve em Rio Grande (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Grande), cidade portuária, localizada no extremo sul do estado. Fomos até lá a convite da Furg e do Geribanda participar do Seminário de Dança Contemporânea Circuitos Diálogos.
Terra natal do diretor e coreógrafo do Meme, Paulo Guimarães (Laco), essa viagem teve um sabor especial, pois o espetáculo apresentado foi “Teresinhas”, obra inspirada em uma Teresinha real e rio-grandina, a mãe do Laco. Com isso em mente, não preciso dizer que além da platéia lotada no auditório da Furg, tínhamos a família Guimarães em peso nas primeiras filas, assistindo cheios de emoção a dança da vida de Teresinha, a sua grande matriarca!
Durante os dois dias que passamos lá, tive a oportunidade de conversar com Daniela Castro, querida amiga desde os tempos iniciais do Meme, em 2004.
Formada em Educação Física e Mestre em Ciências do Movimento Humano, Daniela trocou o agito da capital e voltou para casa, voltou a Rio Grande e é lá que tem desenvolvido o seu próprio trabalho como professora da universidade, além de dirigir e coreografar um grupo de mulheres maduras, o “Baila Cassino – Grupo de Dança Livre”.
Esta entrevista é a tentativa de estabelecer um diálogo com aqueles que estão fora do eixo da capital, fazendo e vivenciando a dança, para que possamos conhecer um pouco melhor a realidade dos grupos no interior do nosso estado.
Entrevista com Daniela Castro – Rio Grande, novembro 2009.
Fala um pouco sobre esse evento que está acontecendo aqui na FURG.
Daniela – Bom, na verdade são dois grandes eventos, a MPU – Mostra de Produção Universitária da FURG e o Geribanda, que é o movimento de arte e cultura na Furg. Dentro do Geribanda, existem alguns focos e neste ano o foco foi a música, o teatro e a dança. Falando mais especificamente da dança, tivemos o seminário de dança contemporânea: Circuito diálogos, que foi a parte da dança dentro do Geribanda. Esse Seminário teve como proposta fazer algumas atividades práticas e oficinas, como a do Daniel Amaro de dança-afro e a do Laco (Paulo Guimarães, coordenador do Meme) que será amanhã de manhã. À tarde, então, foi a vez da Mostra de Dança cuja intenção maior era provocar um pouco a discussão e o diálogo em torno da dança, o que vem sendo feito aqui na cidade. A gente colocou um tema, que foi “Processos de Criação” e os trabalhos poderiam estar ainda em construção, ou seja, as pessoas poderiam trazê-los como estivessem e haveria comentadores para se criar esse diálogo, né? Então dentro disso entrou o Laco, o Alex Almeida que estuda dança-teatro na UFPEL e eu, que venho da Furg.A gente sabia que viriam várias coisas, até porque conhecemos a dança de Rio Grande. Apesar de ser um seminário de dança contemporânea, teve trabalhos de dança clássica, dança de salão, de rua. Mas a gente deixou assim porque, em primeiro lugar, talvez nem acontecesse se a gente fechasse muito e segundo porque a ideia era provocar o diálogo da dança em geral. Acho que foi bem rico, o que a gente já viu... Por que o que acontece? Tem muitas pessoas que são mais cruas, existem escolas menores, que não pensam muito na sua criação, copiam muito, trazem os passos que aprendem nos cursos e depois montam a sua coreografia, ou então escutam aquela musiquinha legal da novela e traz pro palco, então era isso que a gente queria um pouco discutir, né? Talvez ainda não tenha surgido o diálogo que eu imagino, mas acho que o Laco colocou muitas questões para eles refletirem, o que já é um primeiro passo, pensar sobre a sua criação, e depois pontuamos algumas coisas que a gente viu, coisas básicas mas que são decorrentes desse não pensar... Mas o mais importante que aconteceu, mais no finalzinho, quando o pessoal começou a falar mais, foi o medo de se expor que eles foram perdendo, foram falando dos seus trabalhos, e eles mesmos disseram “poxa, que legal poder estar falando sobre isso e poder estar trocando com outros grupos”.
Como são os grupos de dança aqui em Rio Grande?
Os grupos são muito fechados, um briga com o outro, é uma coisa muito de cidade pequena. Existem escolas boas, mas se a fulana vem o outro não vem.. Então foi isso que eu quando pensei nesse seminário, eu quis provocar. Vamos trazer para a Universidade que é um espaço diferenciado e neutro, assim podemos chamar todos para participar, pois não é uma academia sozinha que está promovendo, e vamos ver, quem estiver mais aberto vai aparecer. A intenção é que esse Seminário se repita outras vezes, para que a gente possa, aos pouquinhos, mexer com a dança de Rio Grande.
Tu trabalhas com um grupo de dança, que tu diriges e coreografa. Como é?
O meu grupo eu chamo de “Baila Cassino – Grupo de Dança Livre”, as bailarinas têm mais de 50 anos, e eu coreografo também. Mas eu ainda não cheguei no ponto que eu gostaria com elas, porque elas são muito tradicionais, não aceitam qualquer coisa, acho que já cresceram bastante, já faz 3 anos que trabalhamos juntas. Eu comecei esse trabalho porque eu não tava a fim de me incomodar, então pensei, vou trabalhar com a terceira idade, vou dar umas aulas, sou professora de Educação Física, vou juntar a dança com a ginástica, e vou por aí.... Mas eu me surpreendi, pois começamos a trabalhar e veio delas a proposta de uma primeira apresentação, que era um chá beneficiente só para senhoras, quem sabe a gente faz uma dancinha, uma coreografiazinha? E eu disse, então tá! E a partir dali começamos a desenvolver alguma coisa, eu coreografo, eu não consegui ainda que elas criassem como eu gostaria, que trabalhassem com improviso, porque elas ainda são muito presas ao meu modelo, ainda falam muito “ah, eu não sei dançar, sou gordinha, sou velha”.. então elas precisam daquele modelo na frente para elas copiarem. Mas a gente vai indo assim. Eu tenho uma pessoa que me ajuda, a Ângela, que também dá umas aulas comigo. E a gente, então foi aumentando o numero de apresentações, conseguimos fazer uma apresentação no palco, foi legal, falava da trajetória de vida delas, se chamava “Ritmos da Vida”, uma delas é escritora - a gente tem várias potencialidades aqui - ela escreveu o roteiro, que a gente gravou junto, então tinha a fala dela e depois a dança. O roteiro foi feito em cima das historias delas, e foi representado com os ritmos e as coreografias. Foi super legal, elas adoraram, elas amam essa apresentação, querem repetir. Eu já tinha deixado de lado para fazer outras mas elas querem retomar.
Quantas pessoas têm no grupo?
Tem 15, em média.. Este ano organizamos um evento para a maturidade, vai ter uma mostra com outros grupos. Eu comecei a incentivar que elas assistissem outros grupos, algumas delas vieram aqui hoje para as oficinas, e tudo isso fez com que elas começassem a abrir mais os olhos para a dança, viver mais o mundo da dança, se sentir bailarinas, e isso eu acho super legal, até me emociono.... porque eu vejo uma senhora de 70 anos dizendo “ah eu sou bailarina, sou bailarina”. Recentemente fomos a Bagé. E elas sentiram que eram velhas, que não tem muita gente velha dançando, se sentiram um pouco um peixe fora d’água. Aí eu disse, vamos fazer um evento só para a idade de vocês, vamos juntar outros grupos que conhecemos e semana que vem está acontecendo, dias 21 e 22 de novembro. Já temos 6 grupos que vão se apresentar.
Todos aqui de Rio Grande?
Tem um de Pelotas e o resto é de Rio Grande. E fora os grupos, tem muita gente se inscrevendo para as oficinas, palestras, almoço. Estamos conseguindo agregar além das bailarinas, pessoas que querem ver um pouco de dança. Vai ter oficina de alongamento, de dança de salão, oficinas que permitem quem não tem experiência na dança fazer.
Um ultima pergunta: como tu vês o diálogo e a troca de informação entre Porto Alegre e Rio Grande? Como funciona esse intercambio?
Eu acho que ele existe, mas é pouco... a gente mora num lugar que é longe, chega pouca coisa aqui. O que a gente mais sabe, geralmente, é pela Zero Hora, o que chega pelo jornal. Na televisão praticamente não passa nada de dança, principalmente de grupos locais. Eu assisto muito o Canal SESC, mas é mais sobre grupos de RJ e SP. Claro, como eu sou ligada em dança, eu tenho meu mailing, recebo muita coisa, fico sabendo o que está acontecendo em Porto Alegre, agora mesmo recebi email sobre o Mesa Verde, vi que o Meme está envolvido, eu fico sabendo e vou falando.
Mas é um fluxo complicado então?
Exatamente, é complicado. Eu tento estimular ao máximo as minhas alunas a irem a Festivais, apresentações. Trazer para cá é outra coisa difícil. A cidade não é tão pequena, mas não vive a cultura, não é uma cidade cultural, é difícil fazer as pessoas participarem, existe uma resistência grande. Por exemplo, há tempos o Luiz Henrique e eu, tentávamos trazer o Meme, e era difícil. Quando surgiu essa oportunidade aqui na Universidade eu disse: vamos trazer. Por que não dá para ficar dependendo dos teatros, dos patrocinadores, a coisa não anda.
De 15 a 22 de novembro teremos, em Porto Alegre, o Festival Internacional de Dança Mesa Verde, trazendo à cidade uma vasta programação dentre espetáculos, debates e oficinas. O Grupo Meme tem o prazer de participar deste evento com o trabalho Acessos.
Segue abaixo o link para o site do Festival e transcrição da apresentação do Festival, por seus organizadores.
"O público de Porto Alegre, durante oito dias de novembro de 2009, será testemunha do nascimento de um festival internacional de dança contemporânea. De início poderá estranhar seu nome, para depois entender o porquê desta escolha. Durante esses oito dias, vai acompanhar nos teatros da cidade e se deparar no seu cotidiano com espetáculos surpreendentes em sua diversidade e riqueza de linguagem.
Da mesma forma, os profissionais, estudantes, professores de dança, durante esses oito dias, poderão usufruir de um espaço de encontro que talvez tenha demorado a ser criado, tendo em vista o crescimento expressivo da dança contemporânea nas últimas décadas no Rio Grande do Sul.
O Festival Internacional de Dança Mesa Verde nasceu do desejo de intercâmbio de um núcleo, formado por artistas e profissionais ligados à arte e à cena gaúcha, que vem trabalhando junto há três anos e se organizou na Associação Cultural CENA21 – entidade sem fins lucrativos que aposta na capacidade dos artistas darem forma aos seus projetos e realizá-los; nasceu também da convicção de que um espaço como o do MESA VERDE (*) – com sua ênfase na dança teatral, mas aberto à diversidade das demais opções estéticas da dança contemporânea, pode sistematizar o diálogo e as confrontações temáticas e estéticas que são determinantes para o desenvolvimento e o fortalecimento desse segmento das artes cênicas no Rio Grande do Sul.
A intenção é tornar o MESA VERDE um encontro bienal, o que somente ocorrerá com o diálogo entre Companhias e a receptividade de agentes públicos e privados que compreendam e apóiem de forma continuada esta iniciativa – o que já ocorreu de forma expressiva e animadora nesta edição inaugural.
Os Organizadores
Porto Alegre, novembro de 2009.
(*) O título faz alusão à célebre criação do coreógrafo Kurt Jooss, de 1932, e que se tornou momento emblemático na história da dança-teatro."
15◦ Festival Mundial de Marionetes – Charleville – Mézière – França
No dia 18 de setembro de 2009 tive a oportunidade de estar presente no primeiro dia do Festival Mundial de Marionetes que acontece de três em três anos na pequena cidade francesa de Charleville – Mézière na bela região de Champagne Ardenne no noroeste da França e às margens do Rio Meuse. Charleville é conhecida por ser a cidade onde nasceu e cresceu o famoso poeta Artur Rimbaud (1854 – 1891) e hoje abriga um museu que leva o seu nome e conta a história de sua breve e intensa vida.
Além de Rimbaud, Charleville é famosa por ser um centro internacional de estudos relacionados à arte de trabalhar com bonecos e objetos. É lá que fica o “Institut International de la Marionnette e aEcole Nationale Supérieure des Arts de la Marionnette” (http://www.marionnette.com/) tendo sido o Instituto estabelecido em 1981 e a Escola em 1987. Esta é a única escola de marionetes em toda a França e tem um período de estudos de três anos, recebendo estudantes de vários países do mundo.
O Instituto é também um pólo de pesquisa e possui uma completa biblioteca e central de vídeos.
Foi através de um projeto de pesquisa e de uma consequente bolsa de estudos que em julho de 2005 fiquei conhecendo de perto a cidade e este magnífico pólo de artistas. Minha pesquisa buscava aprofundar a relação entre o bailarino / performer e a manipulação de objetos de cena. Uma vez em Charleville tive a oportunidade de não apenas usufruir da biblioteca e da central de vídeos, como também participar da Oficina- Montagem “O Objeto Sonoro e seus Ritmos” com os professores Dominique Montain e Henry Ogier que culminou numa apresentação no aconchegante teatro no subsolo da Escola.
Além de todo aprendizado artístico, este tipo de experiência proporciona um excelente intercâmbio entre artistas de variados cantos do mundo uma vez que abrigamos a mesma residência e vivemos intensamente não só a Oficina mas outros momentos do dia como o café da manhã, por exemplo. Conheci e trabalhei lado a lado com artistas da Itália, África do Sul, Bélgica, França, entre outros.
Por esse motivo, quando soube que estaria na França no primeiro dia do Festival, mudei meus planos de viagem e tomei o trem de Paris até Charleville (2 horas).
Já no trem se percebia a atmosfera de Festival! Alguns artistas com seu bonecos iam na mesma direção. Chegando lá, minha mochila e eu fomos até a conhecida Place Ducalle, coração da cidade e onde meu amigo Mickael estava trabalhando em uma barraquinha vendendo bonecos e outros apetrechos. Bastou a breve caminhada pela rua principal para sentir a energia que começava a tomar conta de toda cidade. Enfeitada com bandeiras de países do mundo todo, a sensação que se tinha é que se estava entrando em um mundo mágico e colorido, habitado por seres humanos e por diversos bonecos de todas as formas, cores e tamanhos. As vitrines das lojas ficam decoradas com os mais criativos “puppets” deixando clara a adesão da cidade e dos seus cidadãos ao Festival, que traz milhares de turistas e com certeza movimenta muito o comércio de Charleville. Grupos de crianças em idade escolar passeavam de mãos dadas maravilhadas com as performances que acontecem espontaneamente em todas as esquinas e ruas paralelas. Além da programação oficial do Festival, a cidade conta com os espetáculos “off “ que ajudam a deixar o clima ainda mais festivo e rico. Minha amiga Maíra Coelho, renomada artista de Porto Alegre, estava lá com o seu Titeretoscópio, apresentando o espetáculo O Equilibrista que pode ser visto apenas por uma pessoa cada vez. Foi muito bacana acompanhar o processo de montagem e de apresentação dela e de seu parceiro catalão Adrià nas ruas de Charleville, e observar a reação de crianças e adultos ao assistir o show.
A Place Ducalle era um espetáculo a parte, tomada por barracas coloridas, bonecos espalhados pelos bares e restaurantes, performances que aconteciam a todo instante, a energia festiva de uma cidade respirando arte e abrindo espaço para toda uma população de bonecos e figuras fantásticas, contagiando velhos e crianças, adultos de todas as idades, criando um espaço único de comunhão entre arquitetura, história, pessoas e marionetes, como se fosse uma espécie de sonho...
Ao entardecer, as luzes do pôr-do-sol me encheram de uma felicidade de difícil descrição. Sentamos na barraquinha do Mickael, artistas do Brasil, da Espanha, Cuba, Canadá e França. Formamos por algumas horas a nossa pequena comunidade internacional artística, bebendo uma cerveja e falando de arte. De vez em quando, um cortejo de performers passava por nós e lá ia eu correndo atrás, querendo segurar essa vivência no meu coração para sempre. Compartilhar é reviver. Espero ter conseguido, neste breve relato pessoal, trazer um pouco da atmosfera deste incrível festival. Quem tiver interesse em saber mais sobre a Escola e o Instituto ou sobre o período que vivi em Charleville, entre em contato nandastein@hotmail.com. Estarei sempre disponível para ajudar e orientar outros artistas que tenham vontade de fazer este intercâmbio!
Au revoir et a bientôt!
Fernanda Stein
Bailarina e pesquisadora do Grupo Meme de Pesquisa do Movimento
Presidente Lula assina amanhã projeto de lei que cria o Vale Cultura, benefício concedido ao trabalhador nos moldes do Vale Transporte e do Ticket RefeiçãoVale Transporte, Ticket Refeição e... um Vale Cultura de R$ 50 mensais para o trabalhador gastar em cinema, teatro, shows ou livros. Não estranhe. O novo benefício é de fato concreto e começa a se tornar realidade amanhã, quando o presidente Lula assinará e enviará ao Congresso o projeto de lei que institui o Vale Cultura. Participam da cerimônia, às 18h, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo, os ministros Juca Ferreira, da Cultura, e Dilma Rousseff, da Casa Civil.Na verdade, já existe um Vale Cultura tramitando no Congresso. Apesar de ter sido aprovado em todas as comissões pelas quais passou, porém, o projeto, de autoria do deputado Múcio Monteiro (PTB-PE), emperrou numa questão legal: o texto pedia a criação de uma despesa orçamentária extra, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Foi por isso que o Ministério da Cultura (MinC) criou um substitutivo – que já incorporou os aprimoramentos sugeridos ao anterior, ressalta o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do MinC, Roberto Nascimento.– Não queremos autoria, mas apenas que o Vale Cultura aconteça – diz. – Será um passo fundamental para acabar com a exclusão cultural existente no Brasil.Na prática, vai funcionar assim: o trabalhador que ganha até cinco salários mínimos vai receber um tíquete, nos moldes dos vales refeição e transporte, todos os meses, no valor de R$ 50; 10% dessa quantia pagos pelo próprio beneficiário e 90%, pela sua empresa – mas que poderão ser abatidos por meio de renúncia fiscal, desde que a soma relativa a todos os funcionários não ultrapasse 1% do total pago por essa empresa em Imposto de Renda. O empregador que quiser disponibilizar o vale aos seus empregados que recebem mais que cinco salários mínimos também poderá fazê-lo – desde que todos aqueles com renda inferior já estejam sendo beneficiados ou, se assim preferirem, tenham se manifestado recusando o benefício.A expectativa, projeta Roberto Nascimento acreditando na “sensibilidade dos empresários em qualificar a sua mão de obra e em colaborar para o engrandecimento da produção cultural brasileira”, é de que a maior parte dos 12 milhões de empregados aptos recebam o Vale Cultura. E, assim, até R$ 600 milhões sejam injetados mensalmente no mercado cultural – ou R$ 7 bilhões ao ano, sete vezes mais que o total investido anualmente pelas empresas em projetos culturais via Lei Rouanet.Dada a quantidade de apoios que o projeto tem recebido – Nascimento acredita haver um “consenso nacional em torno do Vale Cultura” –, o MinC espera que a lei tenha tramitação rápida e possa entrar em ação ainda neste ano.
DANIEL FEIX
Três dúvidas sobre o Vale Cultura:
Qualquer loja, cinema ou instituição cultural aceitará o tíquete? Detalhes da lei ainda dependem de normatização, mas o MinC quer um mecanismo como o dos Ticket Refeição – empresas produzirão um cartão magnético que será usado em instituições credenciadas. A ideia é que todas as lojas de discos, livrarias, museus, teatros e cinemas estejam nesta lista. Se não gastar os R$ 50 num mês, o trabalhador pode fazê-lo nos meses seguintes.
Um trabalhador pode burlar a lei e usar o cartão em outras compras? “Se fizer isso cometerá um crime”, alerta Roberto Nascimento, que acredita que qualquer troca por produtos não-culturais consistirá em algo que represente uma “perda pequena, como ocorre com o Ticket Refeição”.
A quantia de R$ 50 não é pequena dados os valores dos produtos culturais? O MinC concorda que sim, mas acredita que este é um primeiro passo para resolver o problema do acesso à cultura no país. “Mais de 90% dos brasileiros nunca foram ao teatro ou ao museu”, lembra o secretário do ministério. “Com R$ 50 por mês essas pessoas podem dar início ao processo de reversão desse número alarmante”.
A coreógrafa alemã Pina Bausch morreu hoje aos 68 anos, de forma inesperada e rápida, cinco dias depois de lhe ter sido diagnosticado um câncer.
Considerada um dos nomes mais importantes da dança contemporânea no século XX, marcou uma profunda alteração da linguagem da dança e foi criadora de obras emblemáticas, tais como "Sagração da Primavera" e "Café Muller".
"Pina Bausch deixa um reportório absolutamente invulgar e único; é uma das artistas e autoras mais criativas do século XX, cuja obra ultrapassa largamente o domínio da dança. Um dos aspectos mais notáveis é ela ter começado pela dança tradicional e, depois, ter ultrapassado todas as fronteiras, tornando-se numa das heroínas da cultura do século XX. É uma obra atravessada por um grande humanismo, no modo como retrata as contradições da natureza humana, e no olhar sábio que lança sobre o homem e sobre a mulher.”António Pinto Ribeiro, ensaísta e consultor da Fundação Gulbenkian
"É uma perda irreparável. Desaparece uma das grandes criadoras universais do século XX. E há algo da criação desse século e da passagem para o século XXI que morre com ela. Com ela aprendi muito, inclusivamente para o meu cinema, ao nível da montagem, da utilização da música e dos sons. Ao ver como as ideias se iam montando e surgindo na sua cabeça. Vai-me ser difícil fazer o luto, do ponto de vista pessoal, por causa da grande amizade que tinha com ela”.Fernando Lopes, realizador e autor do documentário “Lissabon Wuppertal Lisboa” (1998)
Fica aqui a nossa singela homenagem a esta extraordinária artista que tanto contribuiu para o mundo da dança.
Corpos pintados e 22 interventores em cena Nessa sexta-feira - 12 de junho - 22 interventores vão invadir pela última vez o Teatro do Beco com a intervenção arquitetônica e cênica Acessos: Porão. São 22 atores, bailarinos e artistas plásticos que invadem o local e transformam todo o casarão em um palco fragmentado. Resta descobrir em qual espaço a platéia será disposta. As apresentações surpreendem o público, que participa juntamente com os interventores pela busca por novos espaços. Acessos tem direção de Paulo Guimarães e é um projeto do MEME – Grupo de Pesquisa do Movimento. Destaque para In – Concretus, performance de body painting, técnica que consiste na pintura mimética no corpo do performer. O artista plástico maranhense Rauricio Barbosa camufla corpos de mulheres nas paredes e nas poltronas do Porão do Beco. Um trabalho inovador com corpos que se camuflam no cenário e, ao mesmo tempo, dão vida a ele. O Teatro do Beco é uma realização Ambrosia Cultural e Beco 203. Teatro do BecoO que? “Acessos: Porão” e “In – Concretus” Quando? Sextas-feiras, até 12/06. Hora? A casa abre às 20h. O espetáculo inicia às 21h.Quanto? R$12 (público) , R$10 (estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 5,00 ( aluno UFRGS)Onde? Porão do Beco – Av. Independência, 936A dica: Quem assiste a peça pode ficar para a festa na seqüência.
Prorrogada as inscrições para os editais Rumos nas modalidades Arte Cibernética, Cinema e Vídeo e Dança de 29 de maio para 05 de junho de 2009. Linhas gerais de cada edital:. Rumos Arte Cibernética: seleciona pesquisas acadêmicas e obras artísticas relacionadas à arte computacional, à arte em rede e à arte com videogame, robótica e instalações interativas, entre outros temas que associam arte e tecnologia; . Rumos Cinema e Vídeo: seleciona trabalhos em três categorias: Filmes e Vídeos Experimentais; Eventos Multimídia; e Documentário para Web.. Rumos Dança: seleciona projetos em duas propostas: Desenvolvimento de Pesquisa Coreográfica em Dança Contemporânea e Apoio à Pesquisa e Produção de Videodança. Acesse <http://www.itaucultural.org.br/> e obtenha as informações completas de conteúdo, critérios de inscrição, prêmios e repercurssão dos projetos selecionados. Participe! Divulgue!
O 2º MIAU Mostra Independente do Audiovisual Universitário. de Goiânia, premiou com menção honrosa o curtametragem Maresia, de Christian Schneider e Natália Piva Chim (PUC-RS). O elenco conta com Patrícia Soso, Ana Julia Veiga e Paulo Guimarães, ator e coreógrafo, responsável pela coreografia do projeto e coordenador do MEME Centro Experimental do Movimento.
A Menção deu-se pela notável fotografia, que se reflete no sensível trabalho de construção da imagem; pela abordagem poética de um tema delicado e atual; por atingir alto nível técnico e de pesquisa, condizentes com a complexidade da violência afigurada no corpo da mulher (menção honrosa de ficção).
Maresia conta a história de Julia, que engravida após sofrer um estupro e se vê frente ao dilema de fazer ou não um aborto.
Direção: Christian Schneider e Natália Piva Chim Roteiro: Christian Schneider e Natália Piva Chim Produção: Diogo Santoro e Ruana Nunes Produção executiva: João Guilherme Barone Fotografia: Christian Schneider Edição: Bruna Abubakir Trilha sonora: Jean Presser Direção de arte: Bruna Abubakir, Claudia Garcia Gonzales, Elisa Graeff e Gabriela Benedet Elenco: Patrícia Soso, Paulo Guimarães e Ana Julia Veiga
O Dia Internacional da Dança vem sendo celebrado no dia 29 de abril, promovido pelo Conselho Internacional de Dança (CID), uma organização interna da UNESCO para todos tipos de dança. A comemoração foi introduzida em 1982 pelo Comitê Internacional da Dança da UNESCO. A data comemora o nascimento de Jean-Georges Noverre (1727-1810), o criador do balé moderno. Entre os objetivos do Dia da Dança estão o aumento da atenção pela importância da dança entre o público geral, assim como incentivar governos de todo o mundo para fornecerem um local próprio para dança em todos sistemas de educação, do ensino infantil ao superior. Enquanto a dança tem sido uma parte integral da cultura humana através de sua história, não é prioridade oficial no mundo. Em particular, o prof. Alkis Raftis, então presidente do Conselho Internacional de Dança, disse em seu discurso em 2003 que "em mais da metade dos 200 países no mundo, a dança não aparece em textos legais (para melhor ou para pior!). Não há fundos no orçamento do Estado alocados para o apoio a este tipo de arte. Não há educação da dança, seja privada ou pública". O foco do Dia da Dança está na educação infantil. O CID alerta os estabelecimentos que contatem o seu Ministério da Educação com as propostas para celebrar este dia em todas escolas, escrevendo redações sobre dança, desenhando imagens de dança, dançando em ruas, etc. Enfim, manifestando em crianças e consequentemente nos adultos, a vontade e importância da dança arte na vida do ser humano.
Há cerca de trinta anos, um nascente conjunto coreográfico de Minas Gerais, o Grupo Corpo, contando com músicas de Milton Nascimento e coreografia do argentino Oscar Araiz, criava um balé inesquecível, Maria, Maria. Tantos anos depois, sob a mesma perspectiva de abordar a história de uma mulher individualmente considerada, mas idealizada como uma espécie de metáfora da condição feminina e, portanto, coletiva, o coreógrafo Paulo Guimarães realiza Teresinhas, com música de Tiago Rinaldi. Ele a executa ao vivo, contando com algumas colagens de obras de Vinicius de Morais, que também comparece em gravação. O tema é inspirado na mãe do coreógrafo, Teresinha Jardim Machado. Ela, inclusive, que grava o texto memorialístico do espetáculo e na última noite se encontrava no teatro. Paulo Guimarães conseguiu realizar um trabalho extraordinário. Ao prosaísmo do texto memorialístico, em que Teresinha relembra o pai que a criou sozinho, em suas costas; e depois fala de seu casamento, aos 17 anos, e de suas filhas e de sua separação, opõe-se/completa a coreografia altamente erótica, tanto no sentido da sensualidade quanto no de vitalidade que se opõe à morte e à derrota. O resultado é um espetáculo verdadeiramente inesquecível, profundamente emocionante e que, não por um acaso, recebeu premiações e, sobretudo, a consagração do público. Eis um mistério do boca-a-boca. A sala Álvaro Moreyra, na última noite da temporada, estava absolutamente lotada e muita gente certamente ainda ficou na rua. A coreografia de Paulo Guimarães não é fácil. Ele desafia a bailarina num movimento que literalmente lhe tira o chão dos pés. A coreografia, aliás, está muito apoiada no chão, mas este chão serve apenas para que a figura se projete em movimentos que traduzem tensão expressa na oposição entre aquele prosaísmo da narrativa e a sensualidade do corpo presente em cena. Os movimentos são rápidos, radicais e nervosos. Por se tratar de um trabalho produzido a partir de um Centro Experimental do Movimento, não se segue a estética comum. Não temos, necessariamente, bailarinas jovens e esbeltas. Temos mulheres, de várias idades, da mais jovem à mais idosa, que descobriram seu corpo e suas potencialidades. A coreografia respeita a cada uma e trata de dar a cada uma delas a sua oportunidade, outro momento que evidencia a imensa sensibilidade do criador, porque faz isso sem perder uma perspectiva de conjunto, rigorosamente obedecida. O enredo avança, da infância da personagem à sua maturidade. A coreografia, por seu lado, desdobra-se em movimentos que vão do intimismo ao desbragado, desafiando o equilíbrio e a atração terrestre. Para isso, Paulo Guimarães contou com um conjunto certo de intérpretes. Cada bailarina recebeu um movimento condizente com sua capacidade. Isso não impede de se desenvolverem movimentos coletivos que são unissonamente realizados, mostrando sintonia e disciplina. Mas sem automatismo ou rotina. Isso encanta. O espetáculo possui sensibilidade. Do violão ao canto coral, do solo ao movimento coletivo, a plateia se identifica com a personagem - não só a figura individual daquela Teresinha original - mas com todas as Teresinhas do mundo, quer dizer, com todas as mulheres que, no universo, são capazes de enfrentar e vencer seus desafios, com coragem, mas também com sensibilidade. No final do espetáculo, é possível adquirir o vídeo deste trabalho. Eu tratei de comprá-lo. Quero passar por ele muitas vezes, não mais para escrever um comentário, mas para vivenciar esta sensibilidade do criador, que é capaz de descobrir e de revelar aos espectadores a essência feminina, a partir de sua mãe. A ambientação cênica de Rudinei Morales; os figurinos do grupo, sempre em tons entre beges e verdes claros; a iluminação cuidada de Fabrício Simões; a alternância entre prosa e poesia bailada, mais a precisa realização da coreografia, a cargo de Adriane Vieira, Ângela Coelho, Ariane Donato, Fernanda Stein, Marina Stumpf, Thais Freitas e Walkiria Araújo; e a música de Tiago Rinaldi, que é um excelente compositor e um intérprete de bela e voz e tonalidade muito sensível, fizeram deste um espetáculo verdadeiramente inesquecível. Pena que a temporada acabou. Este é um daqueles espetáculos raros que merecem uma nova temporada. Não por acaso, o público sabe e entende o que é bom e o que lhe toca, verdadeiramente, a alma.
A Funarte tem o prazer de convidá-los para participar do I Encontro da Rede Funarte de Dança, evento que reunirá gestores de todo o país nos dias2 e 3 de maio (sábado e domingo), no Palácio Gustavo Capanema, no Rio deJaneiro.O Encontro marcará a criação de uma rede de articulação nacional e internacional para proposição de parcerias e intercâmbio de ações voltadas para o desenvolvimento da dança brasileira, através de uma intensa programação de dois dias. Serão organizados grupos de trabalho reunindo gestores com interesses convergentes, como: editais conjuntos, apoios a circuitos de oficinas práticas e teóricas, oficinas técnicas, cadastramento nacional, ocupação dos espaços da Funarte, apoio à produção, manutenção e circulação de grupos e companhias, residências nacionais e internacionais de artistas e pesquisadores, entre outras ações. Os participantes do Encontro estão convidados a assistir o espetáculo Nordeste, do Balé Popular do Recife e o lançamento do livro Balé Populardo Recife – A escrita de uma dança, de Christiane Galdino. Essa temporada marca as comemorações da semana do Dia Internacional da Dança, que coincide com a reabertura do Teatro Cacilda Becker totalmente reformado e restaurado. Caso haja interesse de participar do encontro, pedimos que nos envie a sua confirmação o mais breve possível para danca@funarte.gov.br
Contamos com a sua participação!
Cordialmente,
Leonel Brum Coordenador de Dança da Funarte (21) 22798014 / (21) 22798097
TERESINHAS – GRUPO MEME Angélica Bersch Boff Porto Alegre, 06/03/2009 Vou começar pelo único problema, pois este foi o meu primeiro contato com o espetáculo. Trata-se do ponto inicial: o tema. E é um problema de percepção subjetiva – minha – e não do belo trabalho do Grupo Meme. Não gosto do tema “mulheres”. Além de super batido, me incomoda, me parece uma certa generalização muito rasa dividir o mundo em gêneros e, ainda, em dois gêneros. Por isto, e só por isto, o espetáculo já me incomoda. É preconceito meu, talvez... Iniciou o espetáculo, e eu ali, chateada, desgostosa, principalmente porque os trabalhos do MEME sempre me tocaram muito. E positivamente. E a cada novo trabalho deles sou invadida por uma expectativa prazerosa nos dias que o precedem... Com essa incomodação na minha casca – sem afetar o fruto – segui assistindo... sentindo... e pensando... e me vieram boas idéias sobre criações em cena... Talvez um dia falarei dessas idéias, talvez. De repente, me vi tocada e emocionada com as minhas questões pessoais... particularmente com minhas questões de mulher, de namorada, profissional, amiga, filha e irmã. E com minhas questões de identidade. Chorei. Fui tomada de um arrepio, de uma fragilidade sobre minha vida diante daquele espetáculo. Foi então que começaram a aflorar em minha mente as palavras para o Teresinhas. Parecido com a dança das bailarinas, minhas palavras podiam acompanhar seus movimentos, como se estivessem flutuando e dançando sobre o mover de seus braços. Aliás, descobri que as palavras dançam! – em minha mente. Elas dançam assim: delicadeza, mil vezes delicadeza. Sensibilidade... mas nada de emocionalismos e sensibilidades melosas. Trata-se de sentimentos e sensações verdadeiros e tocantes. Porque são apresentados com simplicidade e veracidade, assim como o são no dia-a-dia de todos nós. Uma sensibilidade profunda, mas simples. O espetáculo Teresinhas fala muito com sua dança, mas são falas sem palavras, e sem significados precisos. Cala fundo, e fala todas as línguas. É subjetivo e tem várias margens, como toda a arte. Não precisa falar, precisa dançar.
No último dia 05 de fevereiro, o CENTRO MEME abriu suas portas para receber artistas dos mais variados segmentos e professores de diferentes universidades para bater um papo informal sobre arte e sobre o fazer artístico em espaços alternativos.
Como convidado para abrir essa conversa, tivemos o Prof. Dr. Márcio Pizarro, da Universidade Federal de Goiás, que nos falou um pouco sobre algumas das suas atuais áreas de pesquisa e de trabalho, como por exemplo o grupo de estudos do CNPQ "Interartes" que trata de processos interartísticos e performance. Márcio lançou alguns assuntos para serem debatidos, apontando a necessidade de se pensar em programas curatoriais em eventos de artes cênicas que fujam dos moldes dos Festivais tradicionais e que dêem continuidade aos processos de pesquisa.
Outro conceito mencionado diz respeito à criação de programas de arquivos e bibliotecas num formato mais fluido e que sirvam como um espaço alternativo onde aconteça sistematicamente a recuperação da memória da dança e das outras artes. Esses arquivos poderiam ser também chamados de "Centros de Pesquisa" e estariam abertos à sociedade.
A conversa então se abriu ao grupo ali presente.
Paulo Guimarães perguntou como "efetivamente estabelecer diálogos reais entre áreas diferentes"?
Eny Schuch salientou a importância do cruzamento destas linguagens entre simpatizantes de um mesmo ponto de vista, de forma a se criar uma proposta de ação. Niúra Borges lembrou da experiencia do Grupo A-Paralelos, onde artes visuais e dança convivem em harmonia.
Diônio Kotz disse acreditar que falta desprendimento para o diálogo e que num primeiro momento seria fundamental que as pessoas se conhecessem melhor, só assim viabilizando um real intercâmbio com troca de informações e o surgimento de possíveis parcerias.
O encontro contou também com a presença de Lisete Vargas professora da UFRGS e coordenadora do primeiro curso de Licenciatura em Dança em Porto Alegre. A primeira turma começará as aulas em março e Lisete colocou à disposição o espaço da universidade para futuros encontros e também para uso da biblioteca. A aula inaugural será dada pela prof. Morgada Cunha.
A musicista Laura Leiner falou um pouco sobre a sua experiência no mercado de trabalho informal, pontuando que quanto mais organizados estivermos, mais trabalho haverá para todos, criando, assim, uma espécie de "informalidade organizada".
O bate-papo terminou com a vontade de que novos encontros aconteçam. Oxalá essas novas esferas se consolidem promovendo um espaço onde exista um franco diálogo entre artistas da cidade de Porto Alegre!
Participaram do bate-papo:
Márcio Pizarro (psicanalista, dr. em história e antropologia, UFG)
Paulo Guimarães (bailarino, coreógrafo e diretor do Centro Meme)